A ameaça vinda do céu enevoado não nos intimidou. Munidos de capa de chuva e muita disposição, nos pusemos a subir os 60.000 degraus que nos separavam do topo da Montanha Amarela. Ainda na província de Anhui a aproximadamente 400 quilômetros de Hefei, a Huashang Mountain é um dos destinos mais procurados pelos turistas chineses. A natureza generosa molda a região de acordo com a estação do ano, sendo o mar de nuvens o cartão postal durante o verão. Os picos de granito esculpidos pela ação do tempo, completam o cenário formado há 100 milhões de anos. Acredita-se que o nome atual foi uma homenagem feita ao Imperador Amarelo (Huang Di) em 747 d.C.
Mas, a natureza ali não é totalmente rústica e intocável. A infraestrutura construída para atrair o público se estende de restaurantes a hotéis, tanto na base quanto no topo da montanha. E para os menos aventureiros, os teleféricos levam ao ponto mais alto em apenas alguns minutos. Como em qualquer localidade turística na China, pessoas se aglomeram por toda parte, inclusive nas escadarias rumo ao céu. São mais de três horas de escalada, em meio a turistas, e trabalhadores que sobem literalmente com todo o peso do mundo sobre os ombros. Um cena repetida várias vezes durante o percurso, que me fez refletir. O sustento sustentado por corpos fortes, e cansados, num esforço sobre humano para se manter em pé. Um sustento, mal sustentado, a custas de um suor barato, ardido, febril, dolorido. Os trabalhadores invisíveis que ninguém parece notar, e que ao longe vislumbram teleféricos dourados. Seriam os mesmos seres sem alma que outrora serviam para, da mesma forma, carregarem nas costas suas sinhás? Nesse dia, já no topo, a comida era pesada demais. Não almoçamos.
O ar úmido, os pinheiros, as rochas, a natureza alheia aos fatos, desinteressada, repousa digna e nos faz ter esperanças. Inspira poetas, cantando versos de dor e de alento. Dentro dos teleféricos dourados, voltamos a Terra. O espetáculo encenado de segunda a sábado na cidade de Huangshan faz uma viagem no tempo, uma performance sobre a cultura regional de hoje e de ontem. E claro, o orgulho local, a bela Montanha Amarela é representada em um dos seus cinco atos, nas suas quatro estações.
No dia seguinte, aproveitamos para passear por Huangshan city, que é um charme a parte. As ruas, todas iluminadas por postes desenhados e especialmente decorados, dão um ar de filme romântico a pitoresca cidade. A rua antiga de Tunxi tem séculos de história, e data da Dinastia Song (960 d. C. – 1279 d. C). Atualmente é uma rua de comércio com lojas e restaurantes. Vende-se de tudo por ali, mas principalmente arte chinesa. Cerâmicas, pinturas e utensílios para se dedicar a arte da caligrafia. Coisa levada muito a sério por aqui, e, realmente, uma verdadeira arte.
Lindos: as montanhas, as nuvens e as ruas coloridas…!!!
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Ainda bem que não fomos na semana passada:
http://shanghaiist.com/2016/09/06/huangshan_g20_summit_crowds.php
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Que horror!
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