Serpenteando a costa do Vietnã, Quy Nhon, na provincia de Binh Dinh, é conhecida especialmente pelas belas paisagens e a culinária marcante. As combinações de temperos e molhos a base de amendoim transformam os pratos em verdadeiras perdições gastronômicas. A cidade é sempre lembrada pela qualidade no preparo de frutos do mar e a grande variedade de opções agrada mesmo os paladares mais exigentes. E para arrematar, que tal experimentar um típico café vietnamita? Com notas

de cacau, a bebida possui um gosto bastante peculiar. Tanto para fechar uma refeição, como para ajudar a espantar o sono nas primeiras horas da manhã, o café é sempre bem vindo. Ali, as pessoas acordam cedo, bem cedo. Tradicionalmente, a praia se enche de banhistas às 5 da manhã para um mergulho de boas vindas ao dia que nasce. Da janela do meu quarto, todos os dias, pude assistir de camarote ao nascer do sol, e a felicidade de dezenas de pessoas aproveitando para começar o dia revigoradas pelo mar. E se a temperatura da água for uma preocupação, esqueça. Imagine-se entrando numa grande banheira de água morna e reconfortante. É isso.

A cidade foi sede no 13° encontro de cosmologia do Vietnã em julho de 2017. Fui convidada para dar uma palestra a respeito do meu trabalho e me deparei com um lugar encantador de pessoas acolhedoras e simpáticas. Durante uma semana, discutimos sobre os mais variados tópicos rodeados por uma natureza exuberante. O Centro Internacional de Educação em Ciência (do inglês, ICISE) foi inaugurado em 2013 e realiza inúmeras conferências durante o ano, especialmente em física. Enquanto discutíamos sobre o universo em uma das salas, outras duas estavam ocupadas com eventos diferentes, abordando a física de neutrinos (veja o post sobre os neutrinos para uma breve explicação sobre essas partículas). A poucos metros de uma praia praticamente deserta e cercado de vegetação, posso dizer sem pestanejar que o ICISE está muito bem localizado, propiciando uma atmosfera excelente para trabalhar 😜
Mas nem só de trabalho vive o homem… tivemos um dia de folga para explorar a região e conhecer um pouco mais sobre esse pedacinho de chão tão longe do país que ainda chamo de casa, apesar da minha casa, hoje em dia, ser em qualquer lugar do mundo, o mundo todo. Debaixo de um sol escaldante, eis que surgem no topo de uma escadaria imponente, as Torres Banh It. A arquitetura retrata dois estilos diferentes num período de transição entre duas dinastias no final do século XI. Localizada no topo do morro, a composição belíssima era utilizada como centro religioso. No interior de uma das torres, a estátua de Shiva repousa solenemente, representando uma das esculturas mais antigas encontradas no estilo “Sarasvati”. Um lugar imperdível para quem gosta de cultura e arte. Foi o meu passeio preferido por ser realmente único. Dirigimos então até o museu Quang Trung dedicado a um herói nacional, líder da região no fim do século XVIII, que dá nome ao lugar. Dedicado às grandes personalidades militares no país, o museu se tornou um espaço de veneração dos antepassados. Ali, pudemos assistir também a um pequeno show de música, dança e artes marciais tradicionais, possibilitando uma imersão mais profunda nas raízes desse povo.
Hora do almoço. Famintos, nos deliciamos com o maravilhosos quitutes vietnamitas citados anteriormente. De tarde, um pouco de sol, mar, água fresca e um passeio de barco para conhecer as praias e o mar de águas claras. Para os amantes de snorkeling, um prato cheio. Para mim, que não sou muito habilidosa na modalidade, resolvi dispensar, pois beber água salgada demais faz mal a saúde!
A pequena cidade litorânea a 600 quilômetros de Ho Chin Minh foi uma grata surpresa. Essa conferência acontece a cada 2 anos, então quem sabe ainda volte para assistir a muitas auroras. Para quem for visitar o Vietnã com tempo extra, talvez uns dois dias em Quy Nhon possam ser proveitosos. Fica a dica!